Inovação é um processo comportamental e a colaboração é essencial para isso
Paulo Henrique Pichini*
A transformação digital, somada à evolução da humanidade, traz de tempos em tempos palavras capazes de certificar que o novo está aqui. Os tecnocratas sempre acham que este processo, até por ser digital, está totalmente baseado em tecnologia. Isso não retrata a verdade. A real discussão fica entre dois polos: a tecnologia muda o comportamento ou o comportamento impulsiona a tecnologia? Trata-se de uma discussão polêmica que tem vertentes distintas e gurus capazes de escrever Terabytes em defesa de cada uma das teses, por vezes antagônicas.
O conceito chave desta discussão é a Colaboração. Está provado que a construção do conhecimento e de novas atitudes nasce no ambiente colaborativo. Desde as escolas mais conservadoras até as mais modernas, os novos métodos de ensino estão baseados em técnicas de colaboração entre alunos. Independentemente de espaço geográficos, a meta é criar ambientes onde as ideias devem fluir e ser compartilhadas de forma natural e dinâmica.
Para explorar toda a potencialidade deste conceito, é importante entender que Colaboração pode acontecer em vários níveis:
- Físico: os edifícios mais modernos do Brasil e do mundo são a encarnação, os espaços físicos de colaboração. Oferece-se a possibilidade de compartilhar espaços como praças, teatros, livrarias, cinemas, salas de reunião, salas de aula, cozinhas coletivas, etc.
- Virtual: o cliente/usuário necessita ir além do local físico onde trabalha para colher a informação que fará diferença em seu desafio de negócio. Nesse momento, redes transformam-se no meio pelo qual o profissional irá interagir com pessoas de empresas parceiras, de fornecedores, de universidades e até mesmo de seus clientes. O mundo vira uma vila graças à colaboração.
Alguns exemplos disso: a Amazon colabora com seus clientes para levantar avaliações de produtos – de livros a serviços de data center. A gigante P&G trabalha com o conceito de crowdsourcing para realizar “brainstorms” que vão muito além dos grupos tradicionais de trabalho, algo essencial na hora de inovar em produtos de consumo. Dois gigantes da era da transformação digital, o Uber e o Airbnb nada mais são do que grandes plataformas de colaboração de recursos. Nenhuma dessas empresas imobiliza capital em carros ou imóveis; tudo já está aí e é compartilhado numa estrutura de colaboração global e digital.
No Brasil, cidades inteligentes e centros de eventos já começam a acender seus ambientes. Sensores e plataformas baseadas em formas de reconhecimento e captação de visitantes conectam pessoas e facilitam a chegada do novo. Sensores de última geração permitem que cada visitante que entrar neste ambiente seja reconhecido por meio do endereço físico de seu smartphone, complementado por video analytics, beacons, WiFi e outros sensores combinados. Além de recepcionar a pessoa, trabalha-se para, a partir das mais avançadas ferramentas de colaboração (hardware e software), entender o perfil deste visitante e oferece a ele/ela as melhores experiências em ambientes digitais ou físicos. A meta é encantar os visitantes da cidade ou do evento, criando oportunidades de conexão criativa e descoberta para cada pessoa que estiver nesses espaços.
A meta é, também, armazenar informações que personalizem este usuário/cliente/visitante, de maneira a tratá-lo de forma personificada ou exclusiva em sua próxima visita. Isto é disrupção, algo que muda a forma de se comportar e efetivamente fazer negócios. Estamos vendo o rompimento das barreiras entre a vida pessoal e os negócios, num modelo que alguns chamam de business in life.
Esta mistura organizada dos mundos torna a vida mais colaborativa.
Assim sendo, a Colaboração é muito mais que uma plataforma de software ou mesmo um end point. Hoje, grandes empresas estão conceituando a implementação de videoconferência ou mesmo o uso de ferramentas de chat sofisticadas (Teams ou Skype for business) como Colaboração. É que o mercado ainda confunde esta experiencia com a implementação de um end point de videoconferência ou mesmo o novíssimo e ainda prematuro Spark Board. Essas tecnologias são parte da Colaboração, mas não são a Colaboração.
A verdade é que a Colaboração é tudo isto com o acréscimo de mecanismos de compartilhamento e, principalmente, de adaptação de comportamento (User Experience Aplicada – usuários usufruindo de melhor experiência). As tecnologias e ambientes colaborativos devem trazer ao usuário uma experiência nova e simples de como extrair maior volume de informações como perfil de usuários presentes num local, estatísticas que contribuem para o sucesso do negócio, etc. Tudo tem de acontecer de forma transparente, ou sensorial. O usuário sente mais não vê.
Colaboração é algo que acontece dentro das pessoas, facilitada pela tecnologia.
Acima de tudo, o fruto da Colaboração é, sempre, um ambiente mais rico, mais criativo, mais inclusivo do que o mundo tradicional. O fim do desperdício, a extrema velocidade do go-to-market e a adesão à sustentabilidade são, também, resultados palpáveis da Colaboração.
O tema Colaboração está diretamente relacionado à nova experiencia de usuário; certamente as informações de cada um na rede serão colaboradas ou compartilhadas. É importante reconhecer que isso será feito com ou sem privacidade. Obviamente, os métodos de segurança existem, mas não são infalíveis; futuramente pode acontecer da segurança perder o sentido, e aceitar-se o fim da privacidade de uma grande parcela de informações da rede mundial.
Uma última observação: quando as pessoas pensam no novo, costumam lembrar de invenções como iPhone, óculos Google ou Wikipédia. Embora esses produtos sejam, de fato, resultados de inovação, não são os ingredientes essenciais que fazem dessas empresas mestres da transformação.
Inovação não é “tecnologia”.
Inovação acontece quando pessoas se unem para solucionar problemas difíceis de novas maneiras. Ou seja: ao contrário do que se pensa, inovação é, fundamentalmente, um processo SOCIAL – ou comportamental.
É por meio da Colaboração com pessoas de dentro e de fora da empresa que se tem acesso à inovação mais disruptiva, aquela que altera o comportamento do homem. Por isso, vencem e vencerão as empresas que têm melhores talentos, independentemente do tamanho e do faturamento. Acabou o gigante e o pequeno. Empresas digitais tornaram-se gigantes em faturamento em menos de uma década. É hora de transformar ou perder o barco… e o cliente. Tecnologia já é trivial e de baixo custo.
*Paulo Henrique Pichini é CEO & President da Go2neXt Cloud Computing Builder & Integrator